Tenho 24 anos e nunca tinha comprado uma Vogue. Comprei esta semana. Foi a última vez.
Há os chamados "dias maus". Eles existem e, por alguma razão que me ultrapassa, eu tenho-os numa quantidade absurda. Não são dias em que acontecem coisas más. Estou a falar daqueles dias em que não conseguimos estar bem, pura e simplesmente. Nesses dias, eu tendo a procurar alguma distracção. Qualquer coisa que canalize a minha atenção para outro aspecto que não o meu mau humor ou a minha vida que não vai a lado nenhum ou outra série de pensamentos negativos que não trazem qualquer tipo de benefício.
Ora, algures na semana passada, tive um desses dias. Eventualmente, entrei numa loja daquelas que vendem revistas, jornais e pouco mais (tabaco, uns postais e uns peluches demasiado caros, normalmente - se alguém souber o nome dessas lojitas que me diga, que eu só me lembro de "quiosque" e "papelaria"...e não é nem uma coisa nem outra) e pus-me a ver o que tinham para lá, sem ter nenhuma revista específica em mente.
A Vogue estava lá pelo meio e destacou-se, não só pela capa a preto e branco como pela quantidade absurda de páginas. Eu já estava para comprar uma Vogue há muito tempo e acabei por comprar a dita. Asseguro-vos que foi a última vez.
Sou leitora assídua da Cosmopolitan, pelo que estou habituada a ler artigos de moda, coisa que, aliás, abominava, até ter descoberto a bela da Cosmo. Compro-a há três anos e nunca encontrei um artigo de moda que fizesse qualquer tipo de referência ou que, de alguma maneira, promovesse, o uso de peles de animais. Nem um. Nem uma frase, nem um artigo. Imitações? Sim, claro. Peles? Nunca!
Imaginem então o meu choque quando leio a Vogue pela primeira vez e me deparo com inúmeras imagens, sugestões e artigos (acessórios e peças de roupa) de peles de animais. Desde o célebre vison, passando pela pele de raposa até ao pêlo de coelho.
Repugnância. Nojo. Raiva. São as palavras que descrevem o que sinto neste momento pela Vogue. Uma das revistas de moda mais influentes do mundo promove a barbárie que é a utilização de peles de animais.
Estamos em 2014, minha gente! 2014! Século XXI! Como é que é possível que este tipo de negócio ainda se mantenha? Como é que ainda há pessoas a lucrar com a morte de milhares de animais? E, como, alguém me explique isto (e aqui estou a utilizar uma expressão porque não há argumentação que me convença), é que ainda há mulheres que gostam de vestir animais mortos???
Acho relevante clarificar que não sou vegetariana nem activista pelos direitos dos animais. Como carne e peixe - apesar de ser algo que me causa algum transtorno e várias discussões comigo própria - porque considero ser algo natural, que os próprios animais fazem e acho que comer carne e peixe é necessário numa alimentação saudável - só me convencem do contrário quando houver alguma alteração na roda dos alimentos ou quando a minha médica desmentir o que me disse: que eu, em particular, corro o sério risco de ficar anémica se seguir uma dieta vegetariana.
Matar animais por qualquer outra razão que não seja a nossa SAÚDE é abominável. Ponto. O mesmo se aplica à exploração e maus-tratos contra os animais mas, entrando por aí, já tínhamos sumo para mais um post.
A Vogue, enquanto representante da indústria da moda, tem a responsabilidade de fazer a sua parte do que toca a ACABAR com o uso de peles de animais. Não deve divulgar as novas tendências nessa área. É um dos primeiros passos para, e permitam-me inventar aqui uma palavra, "despopularizar" este costume: não o promover! O glamour associado ao uso de peles e pêlos de animais é tão verdadeiro como o que associamos ao tabaco: é um glamour falso, criado, manipulado e vendido até à exaustão pelas grandes marcas que conseguem que a Maria e o Manel acreditem em qualquer coisa que lhes seja impingida.
Matar uma vaca para comer e aproveitar a pele é uma coisa. Matar uma raposa para fazer um casaco?
Vogue, tenho três palavras para ti: shame on you.
P.S.: afinal tenho mais três, vai à merda.